domingo, 18 de março de 2012

O fim dos computadores

Impossível uma oportunidade mais oportuna para comentar esse assunto. Nem precisei me dar ao trabalho de nomear o post, a notícia já fez isso por mim :)... (aliás, obrigado por me mandá-la, tia Cleide!)

Físico prevê o fim dos computadores

http://tecnologia.br.msn.com/noticias/f%C3%ADsico-prev%C3%AA-o-fim-dos-computadores

O físico teórico Michio Kaku, professor da Universidade de Nova York e co-criador da "Teoria das Cordas", afirmou que o computador como o conhecemos hoje terá desaparecido em 2020. “No futuro, eles estarão em todos os lugares e em lugar nenhum”, disse o cientista durante palestra realizada na Campus Party em 11 de fevereiro.

Na ocasião, Kaku fez um exercício de futurologia mostrando como será o mundo nos próximos 30 anos. Segundo ele, tanto os computadores como a internet serão como a eletricidade é hoje. “Ambos estarão presentes nos tetos, no subsolo, nas paredes e nos aparelhos”, afirmou.

O professor da Universidade de Nova York foi além e disse que a internet estará nos óculos e nas lentes de contato das pessoas. “Você será capaz de ver todas as informações biográficas de um individuo só olhando para ele. Encontrar sua alma gêmea será tarefa fácil”, brincou.

(...)


Vou dizer o que eu acho sobre essas previsões.

Eu acho o seguinte: uma enorme besteira. Calma que eu explico melhor :)...

Eu sei que foi um cara renomado que disse tudo isso e eu entendo perfeitamente os motivos que o levam a acreditar nessas ideias. E eu acho que realmente podemos passar por uma fase de alta tecnologia mesmo, com coisas similares ao que ele mencionou.

O que eu não acredito (e não há quem me faça acreditar) é que isso tudo se tornará ubíquo (presente em todo lugar, em todo país, em toda cidade, em toda casa, em toda pessoa etc.). Ou mesmo que chegará a uma parcela tão significativa assim da população.

Pode até ser que lançarão a lente de contato mágica que te guiará até sua alma gêmea, mas será que as pessoas vão ter mesmo vontade de usá-la?

É fácil imaginar que muita gente vai querer usar essas coisas futuristas. Mas por que a gente imagina isso? Porque pensamos no mundo como ele é HOJE. Se fosse HOJE, com certeza, teria muita gente querendo usar tudo isso.

Mas o futuro não fica no presente, o futuro fica no futuro. Será que no futuro o mundo vai continuar sendo como é hoje? Será que amanhã as pessoas vão continuar sendo como hoje, ávidas por tecnologia?

Eu acho que não. Aliás, eu acho que não MESMO. Eu acho que amanhã o mundo vai ser completamente diferente. Eu acho que as pessoas vão se cansar de tecnologia. As pessoas sempre se cansam de qualquer coisa que vira lugar comum demais. Sempre foi assim com o ser humano: ele se enche o saco de alguma coisa e volta a ser como era antes daquela coisa. Há eras na História que são mais racionais seguidas de eras mais emocionais. Eras mais industriais seguidas de eras mais artísticas. Eras com mais liberdade seguidas de eras com menos liberdade. Logo, por que não, eras com mais tecnologia seguidas de eras com menos tecnologia.

Sabe o que eu realmente acho? Eu acho que o que as pessoas vão querer fazer daqui a poucos anos é aquilo que no fundo elas sempre quiseram: viver em contato com a natureza, consumir produtos mais naturais, ter uma vida mais tranquila, enxergar o verde das árvores, ouvir o som das águas, dos pássaros... Sabe por quê? Porque ISSO é o mundo real. Esse mundo em que vivemos é completamente artificial, tem muito pouco a ver com o que está escrito nos nossos genes nos capítulos "Como funciona a vida" e "Como ser um ser humano".

E em breve as pessoas perceberão que o caminho que o mundo tem seguido está levando-o a uma situação em que todas essas coisas (natureza, tranquilidade, água, árvores) serão raras. E tudo o que é raro acaba atraindo atenção e valendo muito, acaba virando o objeto de desejo das pessoas.

O dia em que a gente se tocar que, ao abrir a torneira algum dia, pode começar a sair água suja, devido à poluição dos rios, talvez a gente acorde para o fato de que vale muito mais a pena trabalhar para despoluir as águas do que para produzir um iPod de 250 terabytes, ou uma televisão de 1200 polegadas, principalmente se for numa fábrica asiática com condições subumanas para os empregados (não que só lá tenha isso, mas lá tem bastante).

Algum dia, não muito distante, o ser humano vai perceber que não precisa de tecnologia para viver, mas precisa de comida, de água, de amigos, de família, de tranquilidade, de felicidade... Note que nada disso é mutuamente exclusivo com a tecnologia. É possível ter os dois. Mas só é possível ter os dois enquanto a existência de um não implicar na inexistência do outro. Se algum dia tivermos que escolher, aí, meu amigo... Adeus mundo conectado e telinhas bonitinhas.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Como eu me tornei vegano


(Foto: pratos veganos preparados por membros do V.I.D.A.)



Este post surgiu a partir de uma conversa no Facebook com o Sr. Fabio Chaves.

Antigamente, eu tinha ideia de que os veganos eram em sua maioria uns sem-noção que só sabiam divulgar fotos horrorosas de animais dilacerados. Além disso, eu também achava que eles curtiam se denominar "vegans", mesmo morando no Brasil, talvez para parecerem mais chiques.

Eu nunca gostei de queijo, não sei por quê. Sempre achei tão nojento quanto carne. Dessa forma, em praticamente qualquer evento social eu sempre me ferrei quanto a comida. E sempre fui considerado fresco com relação à minha alimentação.

Um belo dia, mais ou menos em agosto/2010, eu simplesmente CANSEI disso tudo e decidi procurar pessoas veganas para conhecer, pois assim eu me livraria dessa chateação de ter que aguentar carne e queijo em todo lugar em que eu fosse comer. Aí eu fui procurar no orkut e acabei descobrindo uma comunidade onde a Renata anunciava sua hoje saudosa barraquinha do VegVida (não confundir com o V.I.D.A. acima), que era montada numa feira de uma praça perto da minha casa. Achei perfeito! Prometi a mim mesmo que iria lá no sábado seguinte.

Quando eu cheguei lá, aquilo foi simplesmente uma das coisas mais maravilhosas que já aconteceram na minha vida: eu estava diante de pessoas muito legais, que pensavam muito parecido comigo, que conversavam sobre coisas que eu achava que ninguém conversava, pessoas que não se importavam com as minhas preferências alimentares (até apoiavam, na verdade!). Eu ainda por cima estava diante de um cardápio cheio de opções deliciosas, dentre as quais eu poderia escolher QUALQUER COISA, sem jamais precisar me preocupar se no meio dos ingredientes teria algo que eu não comesse. Eu ainda por cima estava diante de uma pilha de Revistas dos Vegetarianos dizendo coisas interessantíssimas. Além de tudo isso, fui convidado pelo Ricky a me sentar à mesa da conversa e conheci toda a galera que estava por lá! E, para completar, todos usavam o termo em português, "vegano"! Achei que só eu fizesse isso :)...

Pra mim pareceu um sonho. Eu jamais havia imaginado que aquilo tudo fosse possível.

Mas eu não voltei pra casa nesse dia pensando em ser vegano. Voltei pra casa apenas querendo conhecer mais sobre aquela culinária fabulosa, dentro da qual eu poderia exercer toda a liberdade que eu sempre mereci e nunca soube disso. E descobri que existia uma infinidade de salgados, doces, assados, congelados, frios, quentes etc. que eu poderia comer tranquilamente... Um universo novo inteiro de possibilidades que eu estava para conhecer. E percebi que eu até então estava vivendo um mundo muito limitado e não sabia disso, antes eu achava que eu é que era o problema.

A ideia de me tornar vegano veio só alguns meses depois, quando eu entendi mais sobre as razões que levavam alguém a seguir essa filosofia e comecei a ver que todas elas faziam sentido. Eu ouvia cada argumento e pensava "Meu... Eu não consigo refutar isso! Isso é verdade, aquilo também e aquilo outro também!!".

O resto basicamente é história... Mas tem uma coisa que eu gostaria de destacar. Eu, que sou super mente aberta e que já tinha uma propensão GRANDE ao veganismo, demorei vários meses para REALMENTE começar a sequer entender de verdade essa filosofia, quanto mais concordar com ela e decidir segui-la. Eu sempre achei-a interessante, mas demorei bastante para abraçá-la como sendo boa pra mim. E ainda hoje eu não sou 100% vegano, pois sou meio preguiçoso para procurar informações quanto a testes em animais. Além disso, considero que eu deveria assistir a mais documentários, até para saber passar melhor as informações para outras pessoas. Sobre os produtos testados em animais, eu consumo muito poucos cosméticos, e compro aqueles que até onde eu sei são veganos. Então, considero que o impacto disso é minúsculo.

Outras pessoas podem discordar de mim. Alguns podem achar até errado eu me considerar vegano, estando nessa situação. O que eu considero é o seguinte: 1) sou 100% vegano na alimentação; 2) compro só sabonetes vegetais e não compro nada que eu saiba que contenha produtos de origem animal; 3) quero que o veganismo seja uma coisa BOA na minha vida, e não uma encheção de saco - e eu me conheço, tenho uma SÉRIA tendência a levar qualquer coisa como encheção de saco. Então, eu decidi que assim está bom para mim no momento. Um dia eu ainda vou me tornar 100% vegano em tudo (dentro do possível e razoável), mas por enquanto assim está ótimo. Considero que isso não é motivo suficiente para eu dizer que sou "quase vegano", até porque isso mais atrapalha do que ajuda ao conversar com as pessoas.

Por que eu estou contando tudo isso? Por que eu quero chegar no seguinte:

Ninguém tem como chegar e me dizer o que eu devo ou não fazer com relação à filosofia, como eu devo segui-la etc. Eu é que preciso descobrir isso tudo na minha vida. Absolutamente NINGUÉM saberia me dizer com certeza qual seria o melhor caminho pra mim. Eu achava horrível esse negócio de cenas fortes, eu NUNCA veria um documentário como o Terráqueos no primeiro dia em que eu conheci a barraquinha da Renata, e assisti ao filme por livre e espontânea vontade um tempo depois. Eu NUNCA entenderia de verdade o conceito de exploração animal somente com alguém me explicando. Eu precisei refletir durante muitos meses sobre isso e conversar com muitas pessoas para chegar às minhas próprias conclusões.

E é por isso que eu discordo de quem quer impor qualquer filosofia aos outros. É por isso que eu discordo de quem briga com os outros e de quem insiste em mostrar toda hora imagens chocantes para as pessoas, sem aquilo ser solicitado. Fazer qualquer coisas dessas é o mesmo que tentar ser um ditador, criando uma via de mão única da verdade: "Eu sei e você não, seu imbecil. Você tem que fazer assim, porque assim é certo, o resto é errado". As pessoas têm seus devidos tempos para enxergar as coisas. As pessoas vão enxergar as coisas dos seus próprios modos. As pessoas vão trilhar seus próprios caminhos, que serão diferentes dos de todas as outras, ainda que às vezes parecidos.

Eu sou a única pessoa que eu conheço que foi atrás do veganismo por causa do paladar. Com a maioria é ao contrário, o paladar é um dos desafios para adotar a filosofia. Eu já era vegetariano fazia uns 20 anos, mas nunca havia sido por causa de sentimento com os animais. E o que aconteceu é que uma coisa levou às outras e tudo acabou fazendo sentido na minha cabeça. Hoje, a questão do respeito aos animais é o ponto central pra mim.

Com outras pessoas, talvez funcione de outros jeitos. Cada um tem o seu jeito.

Eu penso que qualquer colocação de ideias deva ser feita da seguinte forma: exponha o que você sabe, exponha fatos, exponha opiniões, exponha as suas razões. E deixe a pessoa pensar e concluir por ela mesma. Não está no nosso alcance dar esse segundo passo, não temos esse poder. Outras formas de convencimento também funcionam às vezes, mas muitas geram resistências desnecessárias e criam laços frágeis. Quem toma atitudes por realmente acreditar nelas, aí sim, seguirá seus ideias pela vida inteira.