sábado, 24 de novembro de 2012

Detalhes tão pequenos e grandões

Sempre fui considerado detalhista. Principalmente por mim mesmo.

Eu realmente sou um cara detalhista, e isso é uma característica marcante minha.

Mas, nos últimos anos, andei percebendo vários fatos interessantes sobre os detalhes. Esses fatos aplicam-se totalmente a desenvolvimento de software, assim como a muitas outras coisas.

1) É muito mais fácil aprimorar um detalhe do que um negócio inteiro. A galera que gosta de melhoria contínua deve ter isso bem vivo em mente. Melhorias gigantes não são feitas da noite pro dia. Melhorias minúsculas, sim. Aliás, você consegue fazer UM MONTE delas da noite pro dia. Resultado? Satisfação, motivação, experiência, aprendizado. Excelentes ingredientes para uma mudança maior.

2) Produtos de enorme sucesso são extremamente bem acabados. Se você pretende na sua vida criar alguma coisa realmente muito marcante para as pessoas desse mundo, seja para vender ou não, atente para os detalhes. Grandes músicos fizeram isso, grandes designers fizeram isso, grandes desenvolvedores, professores, cineastas, escritores etc. fizeram isso. O "efeito novidade" perde o encanto rapidamente. Os detalhes ficam.

3) Certas coisas são detalhes hoje, mas serão a parte principal amanhã. Hoje, "deixar tal coisa mais bonitinha" não fará diferença. Amanhã, quando o seu projeto for gigante, aquela coisa terá servido de inspiração para a criação de um monte de outras. Parta de uma base tosquinha mantendo o padrão e terá um resultado final toscaço. Parta de uma base bonitinha mantendo o padrão e terá um resultado final maravilhoso.


Por muito tempo, eu estive cansado de ser detalhista. Ficava brigando comigo mesmo, tentando colocar na cabeça que ser detalhista só atrasaria a minha vida.

A verdade é que, mesmo cansado, eu nunca consegui mudar muito isso, pois sempre adorei os detalhes. Hoje, cansei de estar cansado disso :).

Enxerguei o verdadeiro valor e potencial dos detalhes. Enxerguei que eles te levam muito mais longe do que apenas "ajeitar um negocinho aqui". Eles te fazem repensar sua vida inteira, só que eles fazem isso devagar, então você às vezes nem percebe. Quando vê, tudo já mudou.

É porque não mudou de uma hora para a outra, porque nada que é gigante muda de uma hora para a outra. Então, na próxima vez em que alguém virar pra você e falar "O mundo é assim mesmo e tal coisa nunca vai mudar", pergunte para ela quantas pequenas mudanças ela tem feito na sua própria vida. Se a resposta for nenhuma, confirme com todas as letras: "Hm, você tem toda a razão!".

domingo, 18 de novembro de 2012

Faço, logo existo

Antigamente, eu ficava muito nervoso diante de quase qualquer situação em que eu tivesse que tomar uma atitude envolvendo riscos. A simples palavra "decisão" já me causava medo.

Eu tinha consciência de que não poderia viver assim a vida inteira. Eu teria que mudar. Por mais assustadora que parecesse essa ideia de mudança, a ideia de ficar do mesmo jeito a vida inteira parecia muito mais assustadora. Em outras palavras, me vi obrigado a escolher entre o pior e o menos pior :).

Às vezes, eu ficava me imaginando no futuro... Imaginava um cara que conseguiria tomar muitas decisões na vida, sem ficar com medo, sem ficar enrolando, sem ficar pensando exageradamente nas consequências.

Hoje, muitos anos depois, vejo que eu estava QUASE certo sobre o meu futuro :).

Hoje, realmente consigo tomar muitas decisões na minha vida. Consigo não ficar enrolando, consigo não pensar exageradamente nas consequências. Penso o suficiente e PÁ, vou lá, decido e ajo.

Mas existe uma coisa que é bem diferente de como eu pensava que iria ser: a parte do medo. Essa não mudou muito, não :)... Antes de cada decisão a ser tomada, continua me dando medo. Durante cada reflexão que precede uma decisão, continua me dando calafrios, continua me dando insegurança.

Em situações de decisão, segurança é uma das coisas de que mais se sente falta. Tudo o que você quer é ter a certeza, ou ao menos saber que a probabilidade é bem alta, de que a decisão a ser tomada será a mais acertada. Mas acontece o contrário: vem um monte de insegurança e dúvidas. E você, com isso, às vezes fica paralisado, não conseguindo decidir nada. E se ferra com isso.

Hoje, vejo a coisa de forma muito diferente. Vejo que a segurança só chega DEPOIS da decisão ter sido tomada e consolidada. A certeza da melhor escolha, se vier, é lucro, e vem depois.

Desencanei de esperar ter muita segurança e certeza para tomar decisões. Mudei a estratégia: em vez de tentar 10 vezes com 90% de certeza, tento 100 vezes com 9% de certeza. E não crio nenhuma expectativa para as primeiras, sei lá, 30 vezes. Essa fase é de aprendizado. Nessa fase, raramente o resultado é bom. Não é para isso que ela serve. Ela serve para te dar experiência. E experiência você só vai adquirir tentando, dando a cara a tapa. É a fase em que você deve deixar seu orgulho de lado e colocá-lo à disposição para ser ferido, se necessário.

Ter o orgulho ferido, muitas vezes, é um ótimo aprendizado. Torna a gente mais humilde e mais preparado para aceitar fracassos, que fatalmente acontecem.

E tem uma parte boa: não são exatamente 100 vezes com 9% de certeza. Nas primeiras 30 vezes, talvez você tenha só esses 9%. Depois, eles sobem! Pois você já entende melhor do assunto. Então, eles passam para, sei lá, uns 20%. Daqui a pouco, já estão nos 40. Logo, logo, talvez passem até dos 90! E você percebe que, com o tempo, consegue mais certeza do que conseguiria apenas estudando a situação e não fazendo mais nada.

Geralmente, a insegurança mesmo vem em situações desconhecidas, e costumamos lidar bem com as já habituais. Mas isso também tem limitações.

Uma delas é que a gente enfrenta situações novas o tempo todo. É simplesmente impraticável possuir experiência e segurança prévias em tudo.

A outra é que, em geral, somente após MUITA experiência é que ficamos realmente seguros das coisas. No geral, mesmo com a experiência, dá medo, e muito.

Antigamente, eu acreditava que situações favoráveis reduziriam drasticamente minha insegurança e impulsionariam absurdamente minha tomada de atitude. Hoje, vejo que não é bem assim. Já me vi em muitas e muitas situações EXTREMAMENTE favoráveis em que o medo e a insegurança persistiram, em um grau apenas ligeiramente menor que o normal.

Então, reduzi a importância disso na minha cabeça. Antes eu achava que o principal lance era a situação. Se a situação fosse tranquila, eu estaria tranquilo e seria de boa. Hoje, acho que a situação é apenas uma pequena parte. A principal parte mesmo é a seguinte:

A capacidade de agir APESAR do medo, APESAR da insegurança, MESMO sem certeza, AINDA QUE correndo risco.

Minha psicóloga sempre disse isso para mim de uma maneira ou de outra, e acho que eu finalmente andei entendendo :)... O caminho mais eficaz para mim ficou sendo "fazer cada vez mais coisas", e não "estudar cada vez mais situações".

Além disso, começar pequeno também ajuda muito. Você dificilmente vai conseguir vencer um Everest de bloqueios mentais da noite pro dia. Você dificilmente vai mudar um comportamento mega enraizado na sua alma da noite pro dia. Muito mais viável é buscar pequenas vitórias, pequenos progressos, nas situações em que você tiver que dar apenas um passo, e não 500.

Dado o primeiro passo, você com certeza colherá frutos. Talvez não sejam os mais doces frutos do mundo, afinal, você estará na fase de aprendizado. O importante mesmo é que você DEU aquele passo. Você cresceu. Você venceu uma pequena etapa. Você já está melhor do que estava antes. Dado esse passo, já ficou mais fácil enxergar os próximos e caminhar por eles. E assim você vai, até que um dia, quase que magicamente, você chega lá.

Essa é a mágica da vida: não existe mágica nenhuma. Existem caminhos a serem percorridos, existe esforço, fé, dedicação, superação.

Deixa eu parar por aqui antes que comece a ficar clichê demais :).