sexta-feira, 19 de abril de 2013

A Matrix dos Antenados

Existe em mim uma sensação constante que é a seguinte: eu sinto que o mundo se acha demais.

Eu canso, literalmente, de ouvir que estamos super tecnologicamente avançados, que "as coisas estão muito fáceis hoje em dia", que "o futuro chegou", bla bla bla. Na minha área (Computação), o contato com essa ideia é meio que natural, afinal, supostamente lidamos com o tal do "avanço da tecnologia" e talz.

Eu nunca sei direito se eu é que sou chato ou não, mas eu acho essa conversa toda uma tremenda baboseira... Na minha opinião, estamos longíssimos disso. Estamos longíssimos de estar super avançados. Estamos longíssimos de já termos resolvido tantos problemas assim do mundo e de as coisas estarem fáceis como dizem que estão.

Talvez eu não seja chato, e sim exigente. Talvez eu apenas considere como "não mais do que a obrigação do ser humano" o que para alguns é considerado avançado. Essa talvez seja a minha maneira de enxergar as coisas.

Por exemplo: existem zilhões de ciências e áreas do conhecimento nesse mundo. Quantas delas a gente já domina? Quantas delas existem há décadas, séculos, milênios, e a gente simplesmente desconhece, ignora ou apenas não aplica em nossas vidas? Quanta coisa a gente já sabe mas ainda não consegue fazer? Quanta coisa a gente não sabe? Quanta coisa a gente nem sabe que não sabe?

Imagine quantas pessoas no passado já não tiveram problemas similares aos que a gente enfrenta hoje e já os resolveram de formas incríveis, e nós nunca saberemos. Será que às vezes não nos falta humildade ao falar sobre as pessoas do passado? Será que eles eram mesmo tão burros quanto a gente às vezes acha que eram? Ou será que eles nunca puderam se defender de nossas críticas, e na verdade muitos deles eram muito inteligentes e faziam coisas louváveis?


Voltando às diversas áreas do conhecimento... Pegue-se como exemplo. Quantas áreas você conhece? Quantas delas você pratica no seu dia-a-dia? Chuto que algumas unidades ou dezenas, certo?

Vamos supor que você seja computeiro e também goste de música, viagens, futebol, culinária e literatura. Então, você conseguiu pensar aí em umas cinco áreas de interesse suas (pode haver mais, mas você brevemente listou essas). Aí eu pergunto: quanto de música você conhece? Quantos estilos musicais você consegue enumerar e quantos deles você escuta no dia-a-dia? Quantas viagens você já fez na vida? Quantos por cento do mundo você já conheceu? A quantas Copas do Mundo você assistiu, quantos diferentes tipos de comida você conhece, quantos diferentes gêneros literários de quantas línguas diferentes você aprecia rotineiramente?

Provavelmente, a resposta para essas perguntas será "alguns/algumas". Muito bem.

No geral, conhecemos alguma coisa do que existe no mundo. Temos tempo hábil para conhecer somente parte do que existe.

Assim, soa-me pretensão demais querer dizer alguma coisa a respeito do mundo inteiro, querer generalizar, manja? "Todo mundo gosta de tal coisa", "Todo mundo pensa de tal forma", "Ninguém faz mais tal coisa", "Tal ideia já morreu", "Tal costume morreu", "Hoje em dia tudo está da forma X, Y, Z".

Estas são algumas ideias um tanto questionáveis que eu já ouvi, direta ou indiretamente:
  • Todo mundo tem smartphone
  • Todo mundo no Brasil deveria aprender inglês em vez de português
  • Todo mundo é viciado em café
  • Todo mundo tem que ter facebook
  • Todo mundo quer é dinheiro
  • CD/DVD/Blu-ray/mídia física já morreu
  • Computador desktop já morreu
  • Rádio já morreu, agora é só pela internet

Fiz agora uma pequena busca de dados estatísticos. Aí vai, para refletir:

Botando um pouco mais de lenha na fogueira:

As pesquisas citadas já tem algum tempo, mas creio que ainda estejam próximas da realidade atual. Caso alguém discorde, convido a buscar dados mais recentes.



Como eu dizia, acho bastante questionáveis as ideias mencionadas acima. E acho que mais gente deveria questioná-las também.

Algumas pessoas expõem essas ideias explicitamente. Outras fazem de outra forma, que eu considero pior: passam adiante essas ideias implicitamente. É esquisito pensar desta forma, mas existem pessoas que, por meio de suas atitudes, parecem querer ditar aos outros que caminhos eles devem seguir.

Pára tudo, meu.

O mundo é diverso, por definição. Toda vez que você tenta colocar tudo o que existe nele dentro de uma caixinha minúscula, você tenta sufocar o que nele há de mais belo. Que história é essa de "todo mundo faz tal coisa", "todo mundo deixa de fazer tal coisa"? Por acaso você conhece o mundo inteiro para poder afirmar isso? Ou você só ouviu isso por aí e saiu repetindo? Ou você "leu na Veja"? Ou você "leu no ${site-mega-confiável-internacional-em-que-o-fulanão-escreve}"?

Onde é que está a interpretação individual do mundo aí, gente? Que negócio é esse de ficar dizendo que "tal pessoa ou tal site falou" e parar por aí? Quer dizer que, se o Obama amanhã resolver acordar e dizer que cocaína faz bem, vai faltar traficante para atender a nova demanda de droga no mundo?

Pára tudo, meu.

Eu acho isso tudo muito doido. Eu fico muito perdido diante dessas coisas. Onde as pessoas estão procurando suas verdades, seus valores, suas crenças, suas ideias próprias? Na internet? No Google?  Em vez de ir procurar em suas próprias cabeças, em seu próprio âmago? Deixa eu ver se eu entendi: tem uma galera enorme apostando todas as fichas no que lê pela internet, sendo essa às vezes a mesma galera que depois chama de alienado quem assiste ao Jornal Nacional? É isso mesmo? Eu entendi direito?

Eu juro para vocês que eu fico me questionando quase todos os dias sobre essas coisas. Porque eu acho isso tudo uma ideia muito absurda. Mas, ao mesmo tempo, todos os dias eu tenho a mesma sensação e percepção de que, sim, é isso mesmo que está acontecendo, por mais bizarra que pareça a ideia.

Vejo gente considerando-se inovadora e fechando os olhos para qualquer ideia que não se encaixe naquilo que ela já ouviu por aí. Vejo gente considerando-se politizada e rejeitando uma simples conversa sobre qualquer ideia de que ela discorde. Vejo gente considerando-se acadêmica e não tendo a menor capacidade de lidar com o processo de aprendizado das outras pessoas.

E agora peço licença para entrar no...

<modo-politicamente-incorreto>
Eu acho ridículo uma pessoa brasileira, nascida no Brasil, falante de português, ficar conversando em inglês com outros brasileiros, ficar escrevendo frasezinhas em inglês em twitter ou facebook (exceto quando houver real intenção de que seja lida por um estrangeiro).

Eu acho um absurdo a pessoa, no meio do discurso, em português, para brasileiros, enfiar palavras como overview, deadline, range no meio das frases, quando existem traduções exatas para essas palavras: visão geral, prazo/data-limite, intervalo. Se você não sabia, agora já sabe, então já pode começar a usá-las!

Existe um preconceito gigantesco e generalizado contra o nosso idioma, muito provavelmente motivado pelo sentimento colonial que ainda existe na sociedade. As pessoas acham que inglês tem muito mais palavras muito mais apropriadas para tudo, ao mesmo tempo em que desconhecem parte enorme do vocabulário tão rico e belo da nossa própria língua.

Não estou dizendo que é assim o tempo todo. Eu sei que existem muitas palavras em inglês sem tradução exata para o português, e sei que na Computação é praticamente impossível evitar algumas palavras em inglês. Porém, repare que isso não tem nada a ver com enfiar os tontos dos overview, deadline, range e outros no meio das frases. Isso não passa de vício de linguagem, falando o português claro. Isso só complica o entendimento e dá uma falsa sensação de chiqueza. Fazer isso não é saber inglês, é não saber português!!

Pronto, agora vamos sair do...
</modo-politicamente-incorreto>

Como eu estava dizendo, as pessoas precisam ter a capacidade de (e serem incentivadas a) pensarem com seus próprios neurônios. O mundo está cheio de conhecimento, mas nada disso tem nenhum valor se você não fizer nada com esse conhecimento. A vida só acontece mesmo quando você pega o que aprende e transforma em algo de verdade para a sua vida e para as das outras pessoas. Essa transformação pode ser já diretamente em algo concreto, ou pode ser mais interna, ideológica.

O lance é: não adianta nada você aprender um monte de regrinhas gramaticais se você continuar escrevendo a vida inteira sem usá-las, assim como não adianta nada (se você for computeiro) ouvir falar toda hora que programação funcional é muito legal sem nunca tentar escrever código usando funções de verdade. Assim como não adianta nada você ouvir falar que cereais fazem bem à saúde e nunca incluí-los na sua alimentação, assim como não adianta nada você saber que exercícios físicos fazem bem e ficar sedentário a vida inteira.

Aplicar os conhecimentos teóricos na prática não é fácil, na maioria das vezes. Porém, algumas vezes, é, sim, fácil! E, em todas as vezes, vai ficando fácil com o tempo. O grande lance não é o quão fácil é, e sim o quanto você sai ganhando quando faz isso. Transformar conhecimentos em realidade é algo que não tem preço. É algo que traz uma satisfação que não pode ser colocada em palavras. Ver resultados baseados em esforço baseado em aprendizado é simplesmente a razão pela qual estamos aqui na Terra.

Você que é desenvolvedor... Lembra quando o professor de Orientação a Objetos falou sobre encapsulamento, coesão, acoplamento? Lembra o quanto aquilo soou abstrato e/ou viajado e/ou inútil? E depois de alguns anos, quando você adquiriu mais experiência e viu esses conceitos acontecendo na vida real, em projetos reais, no dia-a-dia real de uma empresa? Não foi divertido, interessante, recompensador? Não é legal ver as coisas acontecendo de verdade, aquelas coisas que pareciam lindas na teoria e que você viu que também podem ser lindas na prática?

Bom, e quais coisas da teoria podem ser aplicadas na prática? Sei lá! Muitas delas. Para saber, só tentando. Em vez de somente retuitar notícias e ideias, por que também não tuitar suas próprias notícias e ideias? Por que não criar conhecimento, em vez de apenas repassar? Por que não tentar aplicar novos conhecimentos na sua vida prática do dia-a-dia? Tipo aquela ideia maluca que você teve e lhe soou tão interessante, sem qualquer motivo aparente?

Por que não pegar as ideias aqui contidas e sair tentando aplicar por aí, para então ver se elas fazem sentido ou não para você? Eu sou o André, e para mim faz todo o sentido, mas você não é o André, você é o/a (seu nome aqui). Você pode ter experiências completamente diferentes das minhas... Ou não! Só testando para saber. E eu, André, tenho muita curiosidade de conhecer diferentes experiências, então, se você fizer isso, por favor, deixe um comentário aí abaixo dizendo como foi! Ou, mesmo se você não quiser aplicar nada e apenas deixar um comentário dizendo o que achou disso tudo, faça isso por gentileza, ficarei grato!