domingo, 7 de dezembro de 2014

A mensagem

Uma coisa que me irrita nos dias de hoje é essa enxurrada de conceitos novos que são criados todo dia. Da noite pro dia, você começa a escutar umas palavras novas estranhas, e todo mundo sai falando-as como se todo mundo soubesse o significado delas.

Agora tem essa tal de "selfie", por exemplo. A publicidade faz a gente achar que agora isso aí é extremamente importante para a sociedade. Eu não vejo as pessoas por aí usando tanto essa palavra, então, acho que é só conversa para boi dormir, mesmo.

Mas o negócio não é só com as palavras. Da noite pro dia, você vê umas imagens esquisitas na internet, uns desenhos nuns estilos diferentes, que de repente viram moda e todo começa a copiar.

Esses conceitos todos não só surgem aos montes, mas também são apresentados aos montes ao mesmo tempo. Você vê umas propagandas por aí, televisivas ou não, cheias de cores, texto, movimento e sons (no caso das televisivas), cheias de tudo. É estímulo pra tudo quanto é lado, pra tudo quanto é sentido. E você não entende mensagem nenhuma.

Mas eu acho é que o intuito é esse, mesmo: sobre-estimular os sentidos e desestimular o cérebro, desacostumar as pessoas de se importar com a mensagem. Mensagem é o que importa. Um mundo sem mensagem é um mundo que não importa. E um mundo que não importa é um meio propício para a proliferação de fungos, doenças e consumo irracional.

"Ah, vou morrer mesmo, deixa eu ir lá logo [comer um monte | comprar um monte | gastar tudo | tomar todas]!", e lá vai o cidadão satisfazer suas vontades e girar a roda da economia. Quem pensa assim muitas vezes nem percebe que a suposta "sua" vontade às vezes nem é sua, foi apenas plantada na sua cabeça por alguém querendo o seu dinheiro.

Você procura uma música instrumental antiga no YouTube (trilhas sonoras de jogos, no meu caso, que adoro), e às vezes encontra um monte de remixes, cheios de batidão, dezenas de timbres, luzes, vozes... Parece que você vestiu um capacete alucinógeno e entrou numa realidade virtual.

Fico imaginando se as pessoas gostam mesmo desse tipo de fuga da realidade. Eu sei que a realidade muitas vezes é dura, mas o negócio é o seguinte: se você quer dar uma escapada da sua situação tensa atual, pelo menos arranje alguma coisa MELHOR que ela, e não pior! Ouvir uma música esquisita dessas não te relaxa em nada, só te tensiona mais ainda.

Anotem o que eu estou falando: logo, logo, esse mundo vai entrar em colapso. Logo, esse excesso de estímulos vai cansar tanto as pessoas que as coisas vão mudar. Em vez do celular caríssimo cheio de menus coloridos, pesados, lentos e sobrecarregados de informação, as pessoas vão preferir a folha de papel escrita à lápis contendo exatamente a informação útil e nada mais. Muitos vão demorar para enxergar qual é o mais eficiente, mas vão chegar lá.

Ontem eu usei bastante um caderno e lapiseira para me ajudar a programar, e digo para vocês que não existe nada como rascunhar livremente num papel. O grau de liberdade que você sente é incomparável. Aplicativos nunca vão chegar a esse nível.

Quer que o nível das escolas melhore? Que tal fazer bom uso desses recursos, que já existem há séculos? Por que você acha que na educação infantil se faz bastante esse tipo de atividade? Usam cartolina, tinta guache, réguas, lápis, caneta... Desenham, escrevem, pintam, apagam, cortam, rasgam, embrulham, dão nó, desfazem nó... Isso, sim, desenvolve criatividade e coordenação motora. Por que os adultos mais velhos não costumam ter problema para se concentrar e as crianças de hoje, sim? Por que as crianças costumam ter mais facilidade em mexer com eletrônicos cheios de estímulos e os mais velhos, não? Por que os mais velhos tem mais facilidade de parar para fazer uma coisa só e as crianças, não? E dizem que o futuro da educação é uma sala sem lousa nem papel. Eu é que não quero um filho meu nessa escola!

Estou dizendo que o professor deve copiar o livro na lousa e o aluno copiar a lousa no caderno? Se você entendeu isso, leia de novo o parágrafo anterior e procure essa afirmação nele.

A mudança vai acontecer. Mas só no dia em que as pessoas se tocarem de que o mais importante não é o meio, e, sim, a mensagem. Muitas ainda estão bem iludidas. E você?