sábado, 25 de outubro de 2008

Um Exemplo Vale Mais Que Mil Slides

[Atendendo a recentes críticas ao blog, resolvi fazer uma alteração nesse post e prometer ser mais conciso nos próximos :)...]

Este post pode ser lido da seguinte maneira: leia a explicação #1 abaixo e, se quiser, vc pode pular a #2 e continuar do parágrafo final.


Explicação #1
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Imagine só... Segundona de manhã. Vc foi dormir tarde e acordou morrendo de sono para aquela aula legal de Química das 8 da manhã. Assunto do dia: substâncias polares e apolares. Seu professor chega e sai explicando quais as diferenças estruturais-moleculares entre as duas, quais tipos de ligações atômicas produzem quais tipos de substâncias e quais classes de substâncias orgânicas costumam ser polares ou apolares... E para isso tudo ele mostra uma apresentação em PowerPoint de um milhão de slides, cheios de figuras e conceitos, tudo isso com a luz da sala de aula apagada.

2ª opção: ele chega e fala: "Aê negada... Tem dois tipos de substância: polar e apolar. Um tipo não dissolve bem o outro. Água é polar. Quem me fala aê uma substância apolar? Isso, classe! O óleo é uma substância apolar. Óleo é uma coisa que a água não dissolve. Vou falar outra coisa que a água não dissolve: cola de adesivo. Vocês já compraram alguma coisa que vinha com aquele adesivo maldito que você tira e depois fica lá aquela cola toda? Poizé, já tentaram passar um pano molhado pra limpar? Simplesmente não sai, né? Então... Adivinha se essa cola aí é feita de substâncias polares ou apolares!

Ahh... Mas já tentaram passar um negócio chamado removedor?? Procura lá na casa de vcs se não tem um treco desses. Se vc passar um pano com removedor lá naquela cola, ela sai toda. Vai lá ver qual é a composição desse removedor aí... Hidrocarboneto alifático saturado. Lembram dos hidrocarbonetos? São aqueles trecos retinhos, bonitinhos e talz... São justamente substâncias apolares! Ao contrário da água, que é polar e não dissolve a cola do adesivo".


Explicação #2
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Poizé gente... Digo pra vcs que isso realmente é verdade. Apresentar um exemplo de alguma coisa que vc queira explicar é realmente muito mais prático do que explicar aquilo detalhadamente com todas as letras.

Isso ocorre devido ao fato de que o cérebro funciona de uma maneira bastante peculiar. Quando vc está ouvindo/vendo/sentindo qualquer coisa, certas áreas cerebrais são ativadas, sendo que existe uma área para cada assunto que vc conhece ou virá a conhecer. Então, quando alguém tenta te explicar alguma coisa que vc não conhece, áreas pouco ou ainda não utilizadas do seu cérebro são estimuladas.

Essas áreas ainda não possuem sinapses suficientes para vc simplesmente entender o assunto de cara. Tudo aquilo é novo pra vc, e entender esse novo assunto significa um esforço grande para o seu cérebro, que terá de ativar suas áreas e mantê-las ativas durante a aula/palestra. E se vc for exigente a ponto de querer se lembrar de tudo aquilo depois, ainda por cima terá que ativar todas essas áreas novamente mais tarde, ou seja... Estudar!! A palavra mágica, que causa terror em 10 entre 9 alunos.

Já quando alguém te dá um exemplo, o que no fim é o mesmo que te contar uma história... Ahhh José! Aí a coisa muda de figura :)!

Você sabe o que é uma pessoa. Você sabe o que é um computador (puxando a brasa pra minha sardinha :P), vc sabe o que é um projeto, vc sabe o que é uma empresa, uma universidade, um governo. Vc sabe o que é uma planta, um animal. Vc sabe o que é uma lei, o que é um juiz. Vc sabe quem são vários figuras importantes da história deste e de outros países.

Melhor ainda! Não só vc sabe tudo isso, mas praticamente TODO MUNDO sabe o que são todas essas coisas. Todo mundo, de qq área, tem ao menos noção de algumas coisas das outras áreas. Além disso, contamos com o nosso bom e velho senso comum (as coisas óbvias: pessoas, animais, plantas etc). Essas coisas estão lá, em algum lugar do cérebro de cada um de nós, basta ativá-las, de forma simples e direta.

E quando alguém te dá um exemplo, ela na verdade te conta uma história, que acaba envolvendo alguns (preferencialmente muitos) desses elementos elementares da vida, que são coisas que vc já conhece, já viu, já ouviu, já sentiu, já tudo! Imagina o tamanho do banco de dados que o seu cérebro tem guardado desse monte de coisa, tudo associadinho e bonitinho :)...

E o da hora é que nesse ponto o nosso cérebro funciona de forma inversa à Computação... Quanto MAIS informação vc tiver associada, conectada, emaranhada e engruvinhada, MELHOR ele funciona!! Quanto mais conexões cognitivas vc tiver entre todos esses elementos, mais FÁCIL é de aquilo fazer sentido pra vc e de vc conseguir entender. Nem é preciso dizer que assim também fica muito mais fácil de vc ser capaz de gostar daquele assunto, e até mesmo de se lembrar daquilo depois!

Muito loco tudo isso, não :)? Poizé... Boa parte dessas coisas eu aprendi com os livros da série Head First ---> Fi recomenda =)!


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Deixa eu adivinhar... Vc leu a explicação #1 e teve preguiça de ler a #2, não é :)? Aha... Essa é a diferença entre uma explicação com exemplos e outra exaustiva, mil vezes maior e mais cansativa.

domingo, 5 de outubro de 2008

A Tese do Coelho

Este texto é meio antigo na internet. Li um tempo atrás e curti :)!



A Tese do Coelho

Num dia lindo e ensolarado o coelho saiu de sua toca com o notebook e pôs-se a trabalhar, bem concentrado. Pouco depois, passou por ali a raposa e viu aquele suculento coelhinho, tão distraído, que chegou a salivar. No entanto, ela ficou intrigada com a atividade do coelho e aproximou-se curiosa:

- Coelhinho, o que você esta fazendo aí tão concentrado?
- Estou redigindo a minha tese de doutorado, disse o coelho sem tirar os olhos do computador.
- Humm... E qual é o tema da sua tese?
- Ah, é uma teoria provando que os coelhos são os verdadeiros predadores naturais das raposas.

A raposa ficou indignada:

- Ora! Isso é ridículo! Nós, as raposas, é que somos os predadores dos coelhos!
- De maneira nenhuma! Venha comigo a minha toca que eu mostro a minha prova experimental.

O coelho e a raposa entram na toca. Poucos instantes depois ouve-se uns ruídos indecifráveis e alguns grunhidos de dor e depois o silêncio. Em seguida o coelho volta sozinho e mais uma vez retoma os trabalhos no notebook, como se nada tivesse acontecido. Meia hora depois passa um lobo. Ao ver o apetitoso coelhinho tão distraído, agradece mentalmente a cadeia alimentar por estar com o seu jantar garantido. No entanto, o lobo também acha muito curioso um coelho trabalhando naquela concentração toda. O lobo resolve saber o que se trata, antes de devorar o coelhinho:

- Olá, meu jovem coelho. O que o faz trabalhar tão arduamente?
- Minha tese de doutorado, Sr. Lobo. É uma teoria que venho desenvolvendo há algum tempo e que prova que nós, coelhos, somos os mais terríveis predadores naturais dos lobos.

O lobo não se conteve e caiu na gargalhada com a petulância do coelho:

- Ahahaha!!! Coelhinho! Apetitoso coelhinho, isto é um despropósito. Nos, os lobos, é que somos os genuínos predadores naturais dos coelhos. Aliás, chega de conversa...
- Desculpe-me, mas se você quiser, eu posso apresentar a prova da minha tese. Você gostaria de me acompanhar até a minha toca?

O lobo não consegue acreditar na sua sorte. Ambos desaparecem toca adentro. Alguns instantes depois ouvem-se uivos desesperados, ruídos de mastigação e silêncio. Mais uma vez o coelho retorna sozinho, impassível, e volta a dedilhar o teclado de seu laptop, como se nada tivesse acontecido...

Dentro da toca do coelho, vê-se uma enorme pilha de ossos ensangüentados, peles de diversas ex-raposas e, ao lado desta, outra pilha ainda maior de ossos e restos mortais daquilo que um dia foram lobos. Ao centro das duas pilhas de ossos, um enorme leão, satisfeito, bem alimentado e sonolento, a palitar os dentes.

Moral da historia: não importa quão absurdo é o tema de sua tese; não importa se você não tem o mínimo fundamento científico; não importa se os seus experimentos nunca cheguem a provar sua teoria; não importa nem mesmo se suas idéias vão contra o mais óbvio dos conceitos lógicos. O que importa é quem é o seu orientador.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Epifania do mês de setembro

Uns tempos atrás eu comecei a pensar... Cara. Eu sou um cara inteligente, que ia mó bem na escola e talz. Um belo dia (qdo entrei na faculdade), eu vi que a coisa não seria mais tão simples quanto ir na aula, aprender a matéria quase que "de graça" e ir bem. Eu ia ter que começar a estudar. Só que eu nunca tinha feito muito disso antes na minha vida. Escola pra mim sempre foi muito fácil, e isso me tornou meio que vagal.

Pois bem. Hoje em dia eu estou longe de ser aquela coisa de "o melhor da turma" e talz. Sou apenas um aluno razoavelmente bom, apesar de sentir que tenho um grande potencial (pouco aproveitado e talz). E eu quero um dia prestar um concurso e virar docente na universidade. Mas espera-se que quem entra seja meio que "o melhor da turma", eu mesmo penso isso, pois é o cara que merece ir pra lá, é pra ser aquele que será o que melhor exercerá sua futura profissão (afinal um concurso serve pra selecionar os melhores).

Só que eu num to nessa de estudar tudo isso pra ser o melhor não. E aí? Será que numa dessas alguém vai "passar na minha frente" e eu vou "ficar pra trás" (e aquela coisa toda dessas expressões que eu acho toscas pq refletem uma competição, que na verdade infelizmente existe e é inevitável)? Será que eu não deveria ter estudado tudo aquilo que eu poderia, e ter sido ao menos o melhor que eu mesmo poderia ter sido? Será que eu não deveria ter aproveitado melhor o meu potencial, ter levado tudo mais a sério, ter aprendido mais do que o necessário, ter sido que nem o Banco Real e "feito mais que o possível"?

Bom... Eu penso que todo tipo de questionamento que comece com "E se eu tivesse..." não faz bem à saúde :)! E tenho conseguido aplicar essa minha idéia, e não ficar encanando com esse tipo de pensamento e talz. Mas ainda assim continuei curioso com essa questão aí de o quanto eu estudei... Será que teria sido melhor se eu tivesse feito isso?

Bom, é fácil concluir que com certeza eu seria uma pessoa muito diferente do que eu sou hoje. Seria uma pessoa MAIS introvertida, com MENOS amigos e MAIS sem-noção do que eu já sou :P!! Hoje eu tenho um pouquinho de tudo isso, mas tudo está num nível totalmente controlado e satisfatório pra mim (ou seja, tô de boa). E só está assim graças às ações que eu venho tomando desde vários anos atrás para reverter o quadro desses problemas aí. Algo que demandou tempo, determinação, paciência, dedicação, e até mesmo estudo, se for pensar. Afinal, todo mundo sabe que mudar não é nada fácil.

Mas até aí essas coisas são muito óbvias, ainda não tinha graça pra mim :P... Eu queria saber mais... Queria saber se talvez, ainda assim, essas coisas tivessem menos importância (até certo ponto) do que eu atingir rapidamente e eficientemente o meu objetivo de dar aulas na universidade, fazer pesquisa etc etc. Cronologicamente, eu poderia já ter terminado o mestrado ou mesmo estar no meio do doutorado. Se eu tivesse me formado no final de 2006 (como era a previsão) e feito a chamada "trilha", já seria mestre há quase um ano. Ou ainda se eu nem tivesse feito trilha mas tivesse entrado direto no doutorado em 2007, já estaria quase indo pro terceiro dos seus quatro anos, isso com 22 anos de idade!!

Oh!!! Uau!!! Que lindo!! Que inspirador!! Que grande motivo de orgulho e "seachismo" isso daria, que história legal para contar pros amigos dos pais e avós, e pra todas as pessoas que adoram ouvir essas parada de "histórias de sucesso".

Bom, sei que eu não me contentaria só com a "glória" e talz. Mas eu me contentaria SIM com já estar fazendo pesquisa no talo, e sabendo fazer bem! Estaria no esquema para prestar algum concurso e em breve me tornar um grande professor... Daqueles que te inspiram, manja? É esse tipo de cara que eu quero ser!

Mas pois bem... Voltando à minha epifania :).

Conheço vários professores desse tipo que são O CARA/A MUIÉ em pesquisa, fazem n trabalhos em conjunto com universidades do exterior, fizeram doutorado/pós-doutorado lá nas europa, e outros grandes feitos constantes nos respectivos Lattes.

Um desses é uma pessoa que eu admiro... por um lado. Por um lado, esta pessoa incentiva vc a pesquisar, incentiva vc a fazer tudo direitinho, incentiva vc a participar da aula... E é um puta pesquisador já há não sei quantos anos, sempre fazendo altos trabalhos com o mundo inteiro e tudo o mais.

Por outro lado, para outras coisas mais simples, é um ser altamente chato :P!! E até aí alguém poderia dizer "Bom, não se pode tetudo na vida!". Mas aí eu digo pra vc: meu... Eu é que não queria ser assim. Do tipo que faz certas coisas tão desnecessárias, como algumas grosseriazinhas bestas com as pessoas... Coisas que provavelmente a pessoa faz pq acha que assim é a melhor forma, e talvez até fosse num mundo ideal. Mas NÃO É no mundo real. No mundo real as coisas não são perfeitas. No mundo real, merda acontece. E no mundo real a gente tem que aprender a conviver com as merdas, tem que aceitar que nem tudo sempre precisa sair como a gente quer, e que às vezes compensa mais vc relaxar uma de suas neuras simplesmente para ser gentil com algum aluno, sem com isso perder o seu "padrão de qualidade".

E foi então que eu percebi... Manja aquele momento quase que em câmera lenta, quando vc tem aquela iluminação profunda? Percebi que simplesmente... Não era daquele jeito que eu queria ser :)!! Não é para ficar daquele jeito que eu gostaria de ter investido tanto estudo, dedicação e renúncia de outras coisas da minha vida. E que fatalmente seria isso que iria acontecer se eu o tivesse feito!

Se eu tivesse deixado de olhar em largura para a minha vida (alerta de expressão computeira!!) - ou seja, olhar para os aspectos mais humanos da minha vida -, eu não só seria um cara mais introvertido, com menos amigos e mais sem-noção do que o que eu já sou como ainda por cima SERIA UM MAU PROFESSOR!!!!!! (Putz, que péssimo negócio esse hein :P)

É, José... Vejo que eu fiz a escolha certa! Vejo que o fato de eu ter olhado para os lados na minha vida, o fato de eu ter ouvido algumas críticas que me faziam, o fato de eu ter acreditado na sabedoria intuitiva daquela voz que vinha de dentro, que me dizia que a vida era muito mais do que o que eu fazia na época (ficar em casa, jogar videogame, ficar na internet e outras coisas nerds)... Vejo que o fato de eu ter feito isso não só me tornou uma pessoa melhor como também está aos poucos me tornando um profissional melhor. Um cara com visão, com noção do mundo, com condições de falar com os futuros alunos de igual pra igual, não como um cara que simplesmente manja mais e que o que acha é o certo e acabou. Ou como um cara que é firmeza, que aceita opiniões contrárias e talz, mas que não sabe se expressar direito, não sabe como tornar um assunto interessante, não sabe cativar as pessoas, simplesmente pq não entende "como que alguém consegue não gostar de um assunto interessantíssimo como o da aula de hoje"!!

Como todo mundo, já tive muitos professores muito bons e muito professor zoado. Aprendi muito com todos eles. Com os zoados aprendi o que NÃO fazer ao dar uma aula :P... Com os bons aprendi o que fazer e aprendi muito bem a matéria. E tenho neles a minha eterna inspiração e gratidão, por terem me ensinado, por terem me motivado e por terem me feito acreditar que aquilo tudo que era difícil e/ou chato de estudar era importante. Porque era mesmo! Eu só não enxergava isso naquele momento.

É um DESSES que eu quero ser quando crescer :)...