quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Padrão, sim; padrão, não.

Agora, muita microempresa não é mais microempresa, é tudo estartape.
Agora, muita foto de rosto não é mais foto de rosto, é tudo desenhinho bonitinho de rosto padronizado.
Agora, muito logotipo não é mais autoral, é tudo logotipo bonitinho padronizado.
Agora, muita gente dá feedback de tudo.
Agora, muita empresa põe no site um slogan bonito de missão social na página inicial.
Agora, muita empresa não tem mais site, tem fanpage.

Não que essas coisas estejam erradas. Se eu dissesse isso, seria até hipocrisia, já que:

Eu também digo palavras em inglês
Eu também já fiz desenhinho padronizado em site e usei como foto
Eu também aprecio feedback
Eu acho que é importante, sim, as empresas terem missões
Eu tive Facebook

O que eu questiono, na verdade, é o seguinte: essas coisas todas estão assim porque as pessoas realmente gostam e querem que estejam assim, ou as coisas estão assim só porque virou o padrão e agora todo mundo sente que tem que seguir, querendo ou não?

As pessoas realmente estão apreciando mais o tal do feedback ou elas estão simplesmente se sentindo obrigadas a falar sobre isso?

As pessoas que põem fotos de rosto padronizadas em seus perfis realmente se sentem bem fazendo isso ou elas vêem que muita gente faz e só por isso fazem também?

As empresas que dedicam tempo a manterem suas fanpages no Facebook fazem isso porque realmente mediram resultados e concluíram que ajuda nas vendas ou simplesmente começaram a fazer porque todo mundo estava fazendo ou porque o Gartner falou que tinha que fazer?

São perguntas difíceis de responder... Não há uma resposta única que sirva para todos os casos. Nem existe uma resposta pronta. Cada um precisa refletir e chegar à sua própria leitura.

Pessoalmente, no meu caso, a língua é o fator que mais me chama a atenção. Por exemplo, quando eu leio a palavra "gamificação", sempre me vem primeiro a leitura "gâmi-ficação", porque foi assim que eu aprendi a ler na escola. É claro que muita gente, ao me ouvir falando "gâmi-ficação", vai me dizer: "A pronúncia correta é gueimificação".

A questão que mais me interessa não é essa palavra, nem qual é sua leitura correta, nem qual é sua escrita correta. Só estou pegando esse exemplo para levantar a seguinte reflexão:
  • Quem determinou que essa é a pronúncia correta?
  • Com que base? 
  • Quais são os ganhos?
  • Quais são as perdas?

Bom, a palavra veio do inglês, gamification. Quando alguém acredita que "gamificação" seja a melhor tradução para o português, essa pessoa está automaticamente valorizando mais a proximidade com a palavra original em inglês do que as regras fonéticas de sua própria língua.

Seria como escrever um código inválido na linguagem do seu sistema só para quebrar o galho de um problema imediato e depois sair tentando convencer todos os compiladores do mundo a compilar aquilo sem reclamar. Você concorda com essa comparação?

Fazer isso seria uma atitude aceitável? Não sei, mas, provavelmente, não daria em nada... Os desenvolvedores de compiladores dariam risada de quem pedisse isso.

E se, em vez disso, eles concordassem em alterar seus compiladores? Aí, pronto! Teríamos uma solução mais simples para nosso problema imediato daquele dia.

(Mais simples?)

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